Assim que terminei de ler esse poema me peguei pensando sobre como os objetos guardam um pouco de nós.
O guarda-chuva preto
Esquecido na mesa,
com o cabo voltado para cima
e as bordas arrepanhadas,
é como seu dono vestido,
composto no seu caixão.
Não desdobra a dobradiça,
não pousa no braço grave
do que, sendo seu patrão,
foi pra debaixo da terra.
Ele, vai para o porão.
Existe um retrato antigo
em que pousou aberto,
com o senhor moço e sem óculos.
Guarda-chuva, guarda-sol,
guarda-memória pungente
de tudo que foi em nós
um pouco ridículo e inocente.
Guarda-vida, arquivo preto,
cão de luto, cão jazente.
Adélia Prado - O coração disparado, 1978
Saudades dos seus posts!
ResponderExcluir=**
Eu adoro esses poemas que parecem dar vida e sentimentos aos objetos. Acho tão humano, alguém sentar pra imaginar o que sente e o que pode pensar um simples objeto. =)
ResponderExcluirGostei?!
Beijo!
Sayonara